O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, demonstrou que a autoridade monetária segue atenta aos riscos inflacionários e mantém o compromisso de ancorar as expectativas dentro da meta, nesta sexta-feira, 18, em palestra realizada na sede da agência de notícias Bloomberg em São Paulo. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir no mês de outubro, interrompendo uma sequência de três meses de deflação. “Ainda não há razão para celebrar”, disse o presidente do BC sobre inflação, frisando que o momento é de incertezas e que vai reagir se não houver convergência entre a política monetária e a política fiscal do novo governo.
A proposta da PEC da Transição que prevê uma “licença para gastar” de 175 bilhões extrateto para o custeio do Bolsa Família sem estabelecer um prazo, e as críticas de Lula sobre o teto de gastos geraram estresse no mercado nos últimos dias. O Ibovespa caiu e o dólar disparou, chegando a ser negociado acima de 5,50 reais durante o dia na quinta-feira, 17, algo que não acontecia desde julho. A retirada do programa social do teto de gastos sem estipular um prazo gera preocupação no mercado para uma “expansão sem freio” nos próximos anos, o que pode gerar ainda pressão inflacionária e elevar o risco fiscal do país. O mercado de juros futuros, que precifica as expectativas dos agentes econômicos sobre a condução da política monetária, voltou a operar em alta nos últimos dias, com os investidores apostando em nova elevação nos juros diante da deterioração fiscal. “Não posso trabalhar com suposições. Precisamos esperar para ver o que de fato será aprovado”, disse ao ser questionado sobre a probabilidade de um novo aumento na taxa de juros. “Precisamos entender como o fiscal vai se desenvolver”, afirmou Campos Neto.
O presidente destacou a importância de fazer política social em um momento que a população ainda sofre os feitos da pandemia e da inflação, mas ressaltou que é preciso agir com responsabilidade fiscal para conseguir remover as incertezas e garantir credibilidade. “Gerar incertezas tira o espaço que você tem para gastar. E quando você tem essa perda de credibilidade, por não conseguir comunicar o que quer fazer, provavelmente significa que, no fim, você não vai conseguir fazer o que queria”, pontuou.
Questionado sobre o teto de gastos, Campos Neto disse que “política monetária não é missão do BC”, mas afirmou a necessidade de comunicar que o país tem responsabilidade fiscal. O fim do teto e a reformulação de um novo instrumento fiscal vem sendo debatido desde a campanha eleitoral de Lula, mas nenhuma proposta ou solução foi apresentada ainda. O governo eleito não revelou até o momento o seu plano econômico e o nome de quem irá assumir o ministério da Economia/Fazenda, tornando ainda mais turvo o cenário para o mercado.
Campos Neto também alertou que o crescimento do Brasil deve desacelerar em 2023 em consequência dos efeitos da alta taxa de juros, no atual patamar de 13,75%, e do cenário macroeconômico adverso, com diversas grandes economias também desacelerando nos próximos anos.
Fonte: VEJA